sexta-feira, 7 de maio de 2010
Enrique Leff
Leff define o ambiente como uma "visão das relações complexas e sinérgicas gerada pela articulação dos processos de ordem física, biológica, termodinâmica, econômica, política e cultural". Este conceito ressignifica o sentido do habitat como suporte ecológico e do habitar como forma de inscrição da cultura no espaço geográfico. A partir deste ponto de vista, o autor toma uma posição frontalmente contrária ao "fato urbano", por considerálo insustentável. A cidade, diz Leff, converteu-se, pelo capital, em lugar onde se aglomera a produção, se congestiona o consumo, se amontoa a população e se degrada a energia. Os processos urbanos se alimentam da superexploração dos recursos naturais, da desestruturação do entorno ecológico, do dessecamento dos lençóis freáticos, da sucção dos recursos hídricos, da saturação do ar e da acumulação de lixo. O autor vê na urbanização uma expressão clara da acumulação de capital e considera a globalização da economia a maior evidência do contra-senso da ideologia do progresso. Passou-se de um processo de geração de estilos de vida para um outro, de acumulação de irracionalidades (tráfico, violência, insegurança). A urbanização como via inelutável do desenvolvimento humano é questionada pela crise ambiental, que discute a natureza do fenômeno urbano, seu significado, suas funções e suas condições de sustentabilidade. Este é um dos posicionamentos mais enfáticos do autor. Ele considera a cidade a entidade mais resistente à reconstrução e relocalização. Tecnologias, indústrias, práticas agrícolas se renovam enquanto a cidade torna-se mais firmemente entrópica, como sintoma das "deseconomias de congestão". Neste sentido, ainda que se concorde em grande medida com o autor, cabe questionar a ausência na sua obra de uma temática inerente ao processo entrópico da urbanização, mas com um sinal invertido, de neguentropia: as novas tecnologias de comunicação, com sua revolução digital. Não seria a internet uma ferramenta de desconcentração das cidades e portanto de sua renovação? De forma mais ampla, se empresas e tecnologias são convertidas pelos critérios da ecologia política, não haveria neste processo uma conseqüente renovação também das cidades? Com efeito, por mais terríveis que sejam os casos que lembram a cidade de Cubatão (SP), como os de anencefalia, é plausível compará-los criticamente com os projetos que fizeram de Curitiba uma cidade-referência no mundo.
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